Retrospectiva 2006
Entra ano e sai ano é sempre a mesma ladainha ficamos ali em frente à tv, de branco, prontos para rememorar feitos, desgraças, pestes, pragas, desfalques, acordos, roubos declarados, pactos com o diabo, crimes, eleições, reeleições, imagens espetaculares e o esporte restando como fonte de esperança de grande parcela da população que vive na miséria mais que absoluta.
Este ano, bem no seu final, uma cena me chamou a atenção, aquela do Sadam morto. Primeiro foi o ritual mórbido de sua sentença, depois a comprovação, o sujeito envolvido em lençóis brancos, com a cabeça para o lado como a não deixar nenhuma dúvida de como foi a sua execução, Alguns estão vibrando, enquanto outros carregam bandeiras, bradam pelo seu ditador que se foi... Não entendi o limite entre o que é normal e o bizarro.
Não se discute o caráter do indivíduo em questão (se é que ele tinha algum), nem as leis de um país, nem mesmo seus costumes ou hábitos, claro que se trata de um criminoso, uma figura grotesca gerada pela própria incongruência da humanidade, pelo espaço que ela ainda reserva para essas aberrações tomarem a cena de um planeta doente.
Confesso que me senti mal, senti vergonha de pertencer a uma humanidade que comete crimes em nome de crimes! Mata porque matou! Fui como muitos testemunha do grande circo dos horrores que se tornou a sua morte. Acredito que não podemos nem devemos punir dando péssimos exemplos para a sociedade. Absurdo, além da imaginação, o homem que matou tantas pessoas, que fez tantas atrocidades, provou do seu próprio veneno, morreu! E nós o matamos... Assim como ele fizera outrora. Onde fica nossa consciência, (ela açoita violentamente nestes momentos) como posso olhar para uma pessoa na rua e tentar argumentar? O terror, pânico, a miséria, a fome, a desilusão, fizeram nosso cérebro resgatar lá nas cavernas nosso instinto animal, gosto de sangue, e nos abarrotar da mesma insanidade, como se estivéssemos realmente resolvendo tudo ao enforcar nossas frustrações, nossas dívidas, nossos preconceitos, nossa indiferença, nosso mundinho, enfim nossos vários Sadans que existem por aí, dentro de nós, nos palanques, no trânsito, nos hospitais, nas guerras, nas escolas, nas famílias, espalhados aos montes e nos mais remotos locais do mundo, matando e destruindo a natureza, os sonhos e a beleza. Fico aqui pensando enforcaremos todos! Seremos nós Simão Bacamarte? Onde estará então a nossa Casa Verde? (grande mestre Machado de Assis me desculpe!)
Airton Papeschi 02/01/2007
Entra ano e sai ano é sempre a mesma ladainha ficamos ali em frente à tv, de branco, prontos para rememorar feitos, desgraças, pestes, pragas, desfalques, acordos, roubos declarados, pactos com o diabo, crimes, eleições, reeleições, imagens espetaculares e o esporte restando como fonte de esperança de grande parcela da população que vive na miséria mais que absoluta.
Este ano, bem no seu final, uma cena me chamou a atenção, aquela do Sadam morto. Primeiro foi o ritual mórbido de sua sentença, depois a comprovação, o sujeito envolvido em lençóis brancos, com a cabeça para o lado como a não deixar nenhuma dúvida de como foi a sua execução, Alguns estão vibrando, enquanto outros carregam bandeiras, bradam pelo seu ditador que se foi... Não entendi o limite entre o que é normal e o bizarro.
Não se discute o caráter do indivíduo em questão (se é que ele tinha algum), nem as leis de um país, nem mesmo seus costumes ou hábitos, claro que se trata de um criminoso, uma figura grotesca gerada pela própria incongruência da humanidade, pelo espaço que ela ainda reserva para essas aberrações tomarem a cena de um planeta doente.
Confesso que me senti mal, senti vergonha de pertencer a uma humanidade que comete crimes em nome de crimes! Mata porque matou! Fui como muitos testemunha do grande circo dos horrores que se tornou a sua morte. Acredito que não podemos nem devemos punir dando péssimos exemplos para a sociedade. Absurdo, além da imaginação, o homem que matou tantas pessoas, que fez tantas atrocidades, provou do seu próprio veneno, morreu! E nós o matamos... Assim como ele fizera outrora. Onde fica nossa consciência, (ela açoita violentamente nestes momentos) como posso olhar para uma pessoa na rua e tentar argumentar? O terror, pânico, a miséria, a fome, a desilusão, fizeram nosso cérebro resgatar lá nas cavernas nosso instinto animal, gosto de sangue, e nos abarrotar da mesma insanidade, como se estivéssemos realmente resolvendo tudo ao enforcar nossas frustrações, nossas dívidas, nossos preconceitos, nossa indiferença, nosso mundinho, enfim nossos vários Sadans que existem por aí, dentro de nós, nos palanques, no trânsito, nos hospitais, nas guerras, nas escolas, nas famílias, espalhados aos montes e nos mais remotos locais do mundo, matando e destruindo a natureza, os sonhos e a beleza. Fico aqui pensando enforcaremos todos! Seremos nós Simão Bacamarte? Onde estará então a nossa Casa Verde? (grande mestre Machado de Assis me desculpe!)
Airton Papeschi 02/01/2007
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