sábado, março 31, 2007

Andarilho


Por andar andei
Pelas ruas poeirentas e secas deste país
Em ruas alagadas por lágrimas e chuva
Pelos becos escuros, sombrios, quietos
Pelos corredores estreitos de chão batido que reveste o solo das favelas
E comi, toda a fome da terra
Cantei como um bêbado, a vitória dos excluídos
Clamei por justiça em salas escuras
Em quartos com perfume barato
Queimei o Sol
O mesmo que aquece e ilumina.
Por andar andei
Pelo luxo, pelo lixo
Por obras monumentais, insólitas, abstratas, inúteis
Senti na pele as necessidades dos carentes
Roubei as ilusões dos ladrões e vagabundos
Preguei num imenso deserto
Deparei com homens poderosos que manipulam opiniões
Vendi minha alma tão barato quanto aquele perfume
Prometi promessas impossíveis a deuses ausentes.
Por andar andei pelo piso de asfalto duro que reveste o solo das cidades
Pelas luas artificiais de mercúrio, de sódio...

Jamais encontrei um sentido em um lugar qualquer
Restou a queda, o solo tingido de vermelho

Impermeável,
A vida se esvaindo pelo bueiro

correndo direto para o esgoto encontrar tantas outras.

Airton Papeschi

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